Depois de 123 dias sem uma gota de chuva e uma umidade do ar em até 13%, mais seco que o deserto, uma temperatura de 40º durante o inverno, e muita súplica pelo fim da seca, Deus mandou um grande recado para minha cidade: grana não é tudo, mas a vida é tudo. E Ele sabe disso, quer nos ensinar.
No fim da noite de 27, início da madrugada de 28, veio a grande lição. Muita gente já estava dormindo, como em qualquer boa cidade do interior. Uns poucos acabam de chegar em casa, outros ainda estavam em bares, casas de amigos. A tempestade se formou rapidamente, uma chuva de raios, relâmpagos e trovões. Em seguida, cerca de cinco minutos de rajadas de vento e 10 de chuva de granizo. Um barulho ensurdecedor em todos os cantos da pequena cidade, muito susto e medo, mesmo sob a proteção das casas.
Porém, alguns já não tinham mais a proteção das casas quando começou o dia 28. Foram 1 mil residências afetadas, algumas desabadas, destruídas totalmente, outras destelhadas ou com muros ao chão. Avarias de vários tipos. Os estragos se repetiram em prédios públicos -R$ 4 milhões, avalia a prefeitura - e em prédios comerciais - R$ 1 milhão em prejuízos, avalia a Associação Comercial.
Mensurar os efeitos daqueles minutos é difícil. As torres de telefonia, de transmissão de energia, de emissoras de rádio e TV retorcidas, jogadas no chão, como palitinhos quebrados, e quadras poliesportivas com os pilares de concreto deitados, misturadoàs coberturas metálicas picadas, formando um monte de entulho, dão um sinal da força da natureza. E da catástrofe.
Ainda não se computou, mas mil árvores, com certeza, foram arrancadas pela raiz. A Lagoa Maior, que dá nome a Três Lagoas, o ponto de encontro da cidade para lazer e esporte, o cartão postal ficou moído, só lá 200 árvores jazem.
Apagão? Sim. Alguns bairros - incluindo o meu - ainda estão sem energia. O equivalente a 10% das casas ainda está no escuro, sem telefone, sem internet. Dona Aparecida de Souza Dias, de 56 anos, está sem vida. A irmã dela, dona Isolina, com alguns ferimentos. E, diante de tanto estrago, os ferimentos do povo foram leves, algumas escoriações, alguns poucos pontos.
Como tudo ocorreu no meio da noite, a chuva persistiu, poucos saíram de casa. A ficha caiu terça-feira de manhã, quando se olhou no entorno e pudemos perceber a intensidade do que tinha ocorrido. Metade da cidade sofreu algum impacto: 40 mil pessoas com danos materiais ou suspensão de serviços. Bombeiros, Defesa Civil e hospitais nem chegaram a fazer uma estatística dos ferimentos, porque foram poucos.
Passei a terça-feira em pânico, apurando notícias para o principal jornal do Estado, que fica na Capital. Trabalho há dois dias na lan house, devido ao desabastecimento. Ao andar na cidade onde nasci, da qual quis me livrar dos 17 aos 31 anos e para a qual voltei, mãe, madura, apaixonada e comprometida, constatei o tamaninho de nós. Nada, grãozinhos no areal do mundo. O choro vem à porta dos olhos toda hora e ainda não entendi se é por medo, por agradecimento, pela lição, por saber o que é óbvio e me esquecer disso o tempo todo. Não chorei. Penso, penso, sentido da minha existência, da nossa existência.
Mas vejo recados claros:
1. Deus tocou nossos bens materiais, tocou nossa rotina de cidade desenfreada em busca do crescimento - menos de 100 mil habitantes e a 25ª economia mais dinâmica do país ano passado, primeira do Centro-Oeste, foco do desenvolvimento do interior do país com investimentos de todas as esferas públicas e privadas, responsável por metade das exportações de Mato Grosso do Sul, detentora das duas maiores fábricas de celulose e papel do mundo, prestes a ter a maior fábrica de fertilizantes do Brasil, estratégica em energia, em transportes, cheia de si, auto-estima elevada, quase soberba. Deus acaba de dar um piparote nesta nossa loucura de trabalhar, trabalhar, pensar em dinheiro, pensar em estatítiscas grandiosas, querer ter para ser.
O comércio está quase parado, aulas suspensas, correria desacelerada, famílias conversando com as TVs, net, videogames desligados, pessoas se ajudando. Uma vida diferente daquela que estávamos construindo.
2. Deus quase não tocou em 99999 pessoas, fisicamente. Tocou uma, e isso se evidencia por vários fatores: horário do temporal, número e gravidade dos ferimentos e os fatos em si. Imagine uma torre de telefonia de 40 metros e toneladas de metal, que poderia ter caído sobre algumas casas e caiu, destruindo pequenos pedaços das casas, garagens, de preferência, sem acertar ninguém e se dobrou para a rua. Imagine eucaliptos de 30 metros, que poderiam ter caído em cima de casas, matado pessoas, mas acertou apenas varandas, postes de energia. Imagine cabos de alta tensão soltos nas poças d´águas, mas ninguém levou um choquinho sequer.
Então. Deus tocou nossos bens materiais, mas não tocou nossos corpos. Que sejam recados para tocar o que vai além dos nossos corpos.
11 comentários:
Oi Ana
Pelas fotos vemos como foi grande a chuva por aí...e como Deus foi misericordioso para com esta cidade!
Sim é realmente para se refletir, em que estamos gastando nosso tempo? em coisas materiais? que de uma hora para outra se acaba? Estamos pensando somente em ter, ter , ter, e nos esquecemos que tudo vai ficar aqui mesmo...Que tal procurarmos construir algo lá no céu, onde nada poderá nos tirar?
Busquemos então a orientação, a direção de Deus para nossas vidas, e vivamos em paz e felizes sabendo que o que estamos construindo é para toda a eternidade.
beijinhos
Deus abençoe voce e toda esta cidade.
Tina (Sonhar e Realizar)
Ana querida, lamento o ocorrido em sua cidade, sinto muito mesmo pela vida perdida. Também passamos por um evento da natureza que nos causou muitos estragos. Cenas que na minha de vida de quarenta e quase nove anos não tinha visto e nem sabido. Ainda estamos nos recuperando, não fui nem de longe atingida mas ví cidades completamente destruídas pela força das águas e pensei na razão daquilo tudo, no porquê... sinceramente penso que é tudo uma resposta pelos disparates que nós mesmos fizemos, consumo exagerado de bens naturais principalmente, intervenções em cursos de rios ... eu só espero que não seja tarde para consertarmos o que já fizemos de errado.
Bom saber que você e sua família estão bem e que Deus nos ajude a todos e nos proteja.
bj bj bj
Olá Ana...
É Deus é magnânimo, mas seus recados são contundentes. Entendemos mas não assimilamos, outros virão com certeza, até a humanidade se dignar a olhar Deus com mais seriedade e dignidade. E graças a Ele, vidas são poupadas para que continuem a luta pela vida.
Fique com Deus no coração.
bjs.
marilene
Misericórdia!!! qntos estragos, mas o mas importante continua aí: a vida de cada um de vocês!!! Que ele continue contigo!!! bjocas
Bem ...que coisa não...E´que o homem ainda não aprendeu o qto já destrui da natureza que é tão perfeita e agora começou, somente começou a receber os avisos de que isso tem de acabar.Que as coisas melhorem por ai e um gde beijinho.
Marisa
Amiga do céu levei um susto quando vias primeiras fotos e aliviada por saber que vocês estão bem,graças a Deus.
Graças a Ele as pessoas de sua cidade estão bem,pois nossas vidas são muito mais importantes que nossos bens materiais,coisas que reconstruímos.
Mas apesar de tudo isso,sabe que gostei de ver sua família reunida em torno da mesa.
Que Deus os proteja e abençoe.
Teamo
Saudades
Ana,
Graças a Deus vocês estão bem, fiquei preocupada quando comecei a ver as fotos, que sufoco vocês devem ter passado, mas vão os anéis e ficam os dedos, e é isso o que importa.
Beijos e se cuida
Ana, a destruição que se pode ver nas fotos é impressionante... O pecado do Homem "cheira mal" aos olhos de Deus e isso são as consequências dos próprios erros que o Homem comete, ainda assim muitos não se arrependem, vç disse tudo, temos mesmo de ter o nosso foco em Deus porque sem Ele nada somos, e vezes demais nos esqueçemos disso (falo por mim), ainda assim grande misericórdia o Senhor tem para connosco, que ele continue sempre a abençoar e protejer a sua família.
bjs
Nossa Ana, a coisa foi feia. A uns 3anos atrás choveu assim na minha cidade, no interior de SP. Também graças as Deus os estragos foram só materiais.
Ana, qdo tiver um tempinho, dá uma passadinha no meu blog pra me ajudar com um assunto lá.
Beijo.
Ana minha querida, que foi isso...
Misericórdia, ainda vem que estais bem, alias a população pelo que descreveu sai ilesa praticamente... Somos muito diminutos mesmo, só que esquecemos disso as vezes...
Tomara que as coisas tenham se assentado. Que Deus protejas todos vcs!! Bjss
Anna, què triste por las posesiones materiales y què bendición que no haya habido nada más.
En Chile también hemos tenido un año muy duro con el terremoto 8.8...
Disfrutemos nuestra vida al máximo!!!
cariños
maria cecilia
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