
A privada era daquelas de buraco, uma casinha de madeira no quintal, talvez com uma fresta no teto para observar a natureza.... como esta daí. (Parênteses - Sabiam que existe uma história, uma sociologia sobre a história da privada, teoria pra explicar como as cagadas humanas saíram do ar livre, foram confinadas e sofisticadas ao longo dos séculos????)
Na velhice, ela já tinha um vaso sanitário, o banheiro continuava externo, mas nada de pia. Com sua boca careca, como a gente dizia com sorrisinhos marotos, não precisava escovar os dentes, claro, então lavava a boca e o rosto, com sabonete, no tanque, esfregava a gengiva com o dedo.
Também lavamos a cara no tanque, muito, inclusive meus meninos, quando freqüentávamos um sítio que meu pai teve. Quando a água do poço praticamente secava, a disponibilidade era também uma única caneca de água para caras e bocas. E essa escassez de água é algo do que ainda quero falar, outra hora. Porém, havia uma grande vantagem, pra vó e pros meninos na visita à casa do vô: a de tirar a remela dos olhos e acordar para o dia olhando o quintal, as plantas, o sol preguiçoso, o orvalho ainda rebrilhando, talvez um passarinho ou uma galinha emitindo seus primeiros sons. Para isso não havia preço.
Vai daí meu gosto pra banheiro, entendi hoje. No meu banheiro, o pé de bucha enfiando seus ramos e brotos pela janela e eu achando lindo. No banheiro deles – quase batizado de banheiro dos flintstones, ou batcaverna, ainda há controvérsias sobre o nome – as pedras, o céu pela pérgola e as plantas que virão. O custo financeiro foi nada, diante da sensação revisitada de acordar com os olhos naquilo que Deus fez. Assim, entendo também porque meu inconsciente (ou será subconsciente?) falou e me remeteu tanto à roça ao falar de banheiro mesmo que seja nos tempos atuais. Não podia, portanto, deixar de concluir com uma volta aos sábios adágios da roça: já que não tem tu, vai tu mesmo; quem não tem cão caça com gato e o entendimento de que 'para alguns tirar remela dos zóios é o regalo da vida'.
